julho 12, 2007

Marcos 2.13-17

Um novo comentário prometido para breve...Está a demorar demasiado esse comentário.
Sairá um novo comentário ainda em Novembro. Está prometido!

janeiro 29, 2007

Marcos 2.1-12

Marcos não perde o gosto pela aventura descritiva em seu manuscrito. Na qualidade de "repórter", ele gosta especialmente de fazer a cobertura de eventos que reúnam muita gente. O episódio é propício a um registo desta natureza.
A oportunidade de encontro do povo de Cafarnaum com o Mestre não carecia de estímulos exteriores. A rua bem podia ter ficado com o nome "Avenida das multidões", pois eram muitos os que se agregavam junto à porta da habitação por não haver lugar nela. Lucas enriquece a reunião ao informar-nos que na casa do Mestre estavam presentes “fariseus e doutores da lei que tinham vindo de todas as aldeias da Galileia, Judeia e Jerusalém”. A representação era alargada e por isso não admira que a casa estivesse a apinhar. Tudo indica que no início do Seu Ministério Jesus se serviu mais da sua própria casa, cuja residência transfere estrategicamente de Nazaré para Cafarnaum (Mateus 4.13).
A população aguardava com ânsia o regresso do Mestre e o cansaço da viagem não O impedia de imediato apresentar-lhes a Palavra. É Jesus quem melhor nos ensina a escutar o coração dos outros. O Seu ministério está repleto de acontecimentos vivos que revelam o cuidado que manifestava a todos quantos O procuravam. Foi assim com Nicodemos, com Zaqueu, com Jairo e tantos outros. O respeito que sentia por todos significava ouvir-lhes o "bater do coração", o desejo da alma. Eram as necessidades dos outros que moviam o coração do Mestre e remetiam para mais tarde o Seu descanso merecido. Que tremenda lição!
Marcos é o único dos evangelistas que nos refere o pormenor dos quatro ajudantes do paralítico que jamais poderia ter ido a Jesus se não tivesse sido ajudado por estes. Esta é uma das tarefas para a qual os cristãos conscientes são motivados – levar outros a Jesus, a exemplo de André o qual encaminhou a seu irmão Pedro, o mesmo que narra a Marcos as façanhas do seu escrito. Ora furar por entre a multidão não era tarefa fácil, mas fazê-lo com um paralítico em maca era obra quase impossível. João Marcos reforça a narrativa com este notável indicador - "descobriram o eirado no ponto correspondente ao que Ele estava"; dá-nos a ideia de alguém que presenciou a cena in loco. Imagino quantos cálculos feitos sem régua, quantos passos dados sem medida, quantas opiniões e sugestões se trocaram entre os quatros homens encarregados da façanha. Para não falar nos cálculos dos estragos. Quem pagaria a conta? O paralítico? O fundo social do Templo? Terá a fé de todos eles calculado tudo isso? Na fé deles há um sentido apurado de oportunidade que não desejam perder. A fé fez disparar o indicador da razão e a combinação resultou em pleno num magistral plano que até ao Mestre causou surpresa.
O exercício da fé leva em conta a razão? É a fé irracional? Torna a fé a razão cega? Quem está ferido de fé pode tornar-se louco aos olhos dos cépticos mas nunca aos olhos de Deus. A fé não tem preço que se pague porque não tem produto que se compre. Mas enriquece aquele que dela se nutre!
Fica a pergunta: qual a verdadeira motivação do paralítico? Quer ele ir a Jesus para receber cura física ou espiritual? Ele não deve ter sabido bem o que desejava! Uma mescla de emoção se abateu sobre ele. Uma coisa, porém, o paralítico sabia – O Mestre tinha poder para curá-lo! Outros já haviam recebido os mesmos favores que ele ansiava e foram compensados da sua espera. O Mestre curou-o espiritual e fisicamente! Foi uma cura abrangente, atingindo o paralítico por inteiro: alma e vida. O que é resolvido primeiro? O problema do afastamento é resolvido primeiro – “Filho, perdoados são os teus pecados”; o problema da impossibilidade é resolvido em seguida – “a ti te digo, levanta-te, toma o teu leito e vai para tua casa”. A cura originada em Deus resolve sempre em primeiro lugar o problema do afastamento da Fonte da virtude para acertar contas, em seguida, com o efeito do mal. Com Deus a origem do pecado sofre o revês para que o poder do mal seja enfraquecido e vencido (muitos pregadores modernos não pregam esta ordem). Quando nos dirigimos a Jesus Cristo com honestidade sempre recebemos a dobrar e as nossas expectativas diante de Deus são sempre superadas. O Senhor não deixa os Seus créditos por mãos alheias! Foi o apóstolo Paulo que escreveu - “Ora Àquele que é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou esperamos, segundo o poder que em nós opera…” (Efésios 3.20).
Outro pormenor de Marcos é não deixar que o leitor se encarregue de rotular de aventureiros, desmiulados, irresponsáveis, os amigos do paralítico. Ele transfere para o registo a opinião do Mestre - "vendo-lhes a fé, Jesus disse...". Todos os evangelistas referem a frase – “vendo a fé deles…”. Ao fazê-lo, Marcos quer deixar aos seus leitores o grande contributo de que a fé tem mais alcance quando é vivida em grupo. Somos seres criados à semelhança de um Deus que nunca existiu isolado. Sempre houve relacionamento entre a Trindade e foi nesse contexto que fomos criados. E logo que a relação foi cortada com o ser criado por desvio deste, os meios de relacionamento ainda que limitados nunca foram bloqueados definitivamente. Deus nunca se desligou do homem caído sem que tivesse estabelecido “links” de aproximação, com regras bem definidas, sim, mas tornando sempre possível o relacionamento. Até que por fim “o véu se rasgou de alto a baixo”.
Deus valoriza e aprecia a fé manifestada em grupo. Foi um dos motores do avanço do Cristianismo na Igreja emergente (Igreja emergente só houve uma - a que está em Actos dos Apóstolos). O exercício dessa fé em conjunto, com o mesmo grau de intensidade, fez disparar as emoções do Espírito Santo O qual levou os apóstolos e discípulos a fazerem sinais e prodígios, surpreendendo os admirados que afirmaram: - “os deuses desceram à terra”. Diria mesmo, em opinião pessoal, que a fraqueza do Cristianismo reside aí – na incapacidade de vivermos uma fé em grupo. Israel perdeu porque preferiu uma monarquia em lugar de uma teocracia, a Igreja perde porque prefere o governo dos homens em vez da direcção do Espírito de Deus. E nestes contextos a fé do grupo enfraquece! A incapacidade de vivermos uma fé comum, de que Judas também fala, reside no facto de não termos um Líder comum. A fé da Igreja de Corinto já havia enfraquecido por essa mesma razão; em vez da direcção do Espírito havia os seguidores de “Paulo”, de "Apolo”, de “Cefas”, de "Cristo”…Nada mais relevante deve acontecer no planeta aos domingos que a proclamação saída da boca dos fiéis que em pequenos grupos espalhados por este mundo, dirigem os seus louvores a Um único Deus. O Mestre situou O Pai Clestial em qualquer lugar desde que fosse "adorado em espírito e em verdade", contudo, não deixou de abençoar com a Sua quântica presença aquele maravilhoso ajuntamento de 120 pessoas que iniciavam um hábito jamais terminado. A fé vivida e exercida em conjunto tem outro sabor, outro alcance, outro conforto!
Pela primeira vez o paralítico obtem a experiência de ver as pessoas a abrirem passagem para que ele passe. Pelo seu próprio pé! Não fora ele o único a pasmar-se. Uma multidão enorme admite - "Nunca vimos coisa semelhante".

dezembro 23, 2005

Marcos 1.40-45

A procura por cura era mais que evidente em qualquer pessoa do tempo de Jesus que sofresse do que quer que fosse. Mas procurar a cura para a "Myco Bacterium Leprae", comum nos tempos bíblicos, diagnosticada como fatal, só pode advir da esperança sobrenatural na cura. O leproso de Marcos nem sequer podia recorrer ao tanque de Siloé, uma vez que todo o leproso vivia afastado da cidade, impedido de ali entrar por problemas de contágio. O episódio acontece numa das digressões de Jesus anunciadas por Marcos em 1.39 - "Jesus andava por toda a Galileia...". Marcos particulariza dizendo que "um leproso chegou perto de Jesus e ajoelhou-se...". Como o leproso furou o cordão de segurança não sabemos, apesar do incidente acontecer fora da cidade. Qualquer cidadão fugiria à aproximação de um leproso. Não com Jesus! Uma das particularidades do Seu ministério é a aproximação que Ele faz às pessoas e a permissão da aproximação que as pessoas lhe fazem a Ele. Esta atitude do Mestre concedeu-Lhe riqueza pessoal, uma vez que o Seu desejo era servir e nutriu os factores de aproximação do pecador ao Salvador. Jesus nunca criou obstáculos de relacionamento nem ao pecador mais desprezado, fosse ele da baixa ou da classe alta. Há muito de compaixão em Jesus Cristo! Esta é a primeira porta a abrir para que alguém seja beneficiado. Jesus era especialista em arte compassiva. O seu objectivo era que a pessoa que com Ele partilhava saísse beneficiada. Falamos muito da bênção da salvação que a presença de Jesus trouxe à Terra, mas não podemos esquecer o benefício e a influencia que ficou nas vidas daqueles que surtiram do privilégio que estar com Ele. Jesus radiava interesse pelo bem-estar total das pessoas e isso fazia com que O Mestre olhasse para o indivíduo como um todo. A maior parte das vezes desejamos que os nossos amigos estejam bem porque isso é bom para nós também. Isenta-nos de problemas, trabalhos e canseiras! Mas o carácter do discípulo de Cristo deve estar acima das boas circunstâncias até para fazer evidenciar as características divinas que já foram depositadas no coração dos salvos por Jesus Cristo.
O pormenor de Marcos na frase do leproso dirigida a Jesus é revelador da característica que ele deseja imprimir no seu escrito. A afirmação - "Eu sei que O Senhor pode curar-me, se quiser" (1.40) é rica de conteúdo. Não são meras palavras de um desesperado ou de um condenado a prazo; não são palavras tornadas religiosas só porque a miséria bateu à sua porta. Não é uma ida ao "SAP" só porque não aguenta mais as dores e precisa da opinião de um especialista. A afirmação do leproso está repleta de uma certeza que reside muito mais em Jesus do que nele mesmo. Ele sabe que só pode receber libertação do seu mal se Jesus quiser! Já não é um factor que se liberta da fé mas do querer, do desejar de Jesus. Ao contrário do que aconteceu noutros milagres, a afirmação do desejo foi de Jesus - "Sim, eu quero! Tu estás curado". E como não podia deixar de ser, O Jesus compassivo só podia querer beneficiar uma pessoa como o leproso, que tanta esperança Nele manifestou. O leproso baseou a sua cura no que sabia que O Mestre podia! Ele sabia que ainda que a fé fosse muita não seria suficiente para receber tamanha bênção. Era preciso transferir para Deus o querer para o impossível. Por outro lado, há nas palavras do leproso uma busca pela cura sim, mas também uma aceitação plena da sua condição caso Jesus não o quisesse curar. É de notar que o leproso não se baseia em promessa alguma, tal como acontece connosco hoje, e por isso, muitas vezes tratamos Deus como criado, escravo das Suas próprias promessas. O doente sabe que todo o poder para a sua libertação reside no homem que é Deus e arrisca o querer de Deus em sua vida. E sai libertado!
As traduções mais modernas do versículo 41 dizem: "Jesus ficou com muita pena dele...". Jesus não teve pena do leproso! Jesus agiu em função do que Ele mesmo é! A Sua compaixão é a beleza da Sua Obra! Ele não soube ser outra coisa que não compassivo. Era o extracto da Sua Pessoa!
Mais impressionante é a rapidez com que tudo acontece, também isso evidência das características particulares da cura. Jesus não pediu que o leproso fosse lavar-se ao tanque de Siloé ou que se banhasse 7 vezes como no caso do leproso Naamã. Diz Marcos: "No mesmo instante, a lepra desapareceu e ele ficou curado". Se quisermos ser exaustivos no estudo das curas que Jesus efectuou, percebemos que nem todas acontecem de forma igual. Esta é resultado de um desejo de Jesus Cristo! Não é uma ordem ou uma repreensão dada à doença, mas o resultado do desejo de Jesus no corpo daquele leproso, e por isso tudo acontece de forma notória. As palavras de Marcos "...e ele ficou curado" revelam mais do que a cura em si. A boa teologia associa sempre o acto de Deus à transformação do indivíduo, não apenas ao nível do sector doentio que justifica a cura, mas também ao nível do ser que é libertado. Na teologia, sempre que Deus age, fá-lo de maneira plena. Nem sempre o homem deixa toda a luz entrar e isso compromete a transformação das trevas. Não aconteceu assim com este leproso.
O cuidado que O Mestre manifestou para com o leproso é surpreendente. Jesus quer que ele seja feliz o resto da sua vida. Quer que ele volte ao seio da sua família e da sociedade, que obtenha declaração de cura perante o sacerdote. Este é também o objectivo da Obra de Deus a favor do pecador - que ele seja "bem-aventurado para sempre". Os Evangelhos fazem questão de registar alguns episódios semelhantes de cura em que a ordem de silêncio não foi respeitada. Marcos diz que Jesus "ordenou duramente". Que eu saiba, dentre aqueles que não conseguiram silenciar a alma, apesar da ordem contrária de Jesus, a nenhum o Mestre procurou para os acusar de desobediência. A libertação que o leproso sentiu não conseguiu conter a verdade acerca Daquele que o tinha beneficiado. Há momentos na vida das pessoas, em que perante a evidência do trabalho de Deus, o espírito de partilha é mais forte que qualquer outra coisa. O que aconteceu no coração do leproso foi uma simbiose de reconhecimento, gratidão, libertação e transformação. E quando estas coisas acontecem em simultâneo a alma desprende-se em adoração, em louvor, em afirmação.
A proclamação do leproso a respeito do seu Salvador e da transformação que nele havia operado, obrigou Jesus a ficar retido fora da cidade por conveniência de missão. Mas isso não impediu que toda a gente viesse procurá-lO. Quem fala do que o transformou fala do que o pode transformar! E este é um privilégio dos transformados.
Os discípulos de Cristo que partilharam da experiência da "estrada de Damasco", e deve haver uma "estrada de damasco" na vida de todos os discípulos de Cristo, sabem que para uns há mais intensidade de luz que para outros, conforme a necessidade da alma. Muitos podem recordar com ardor no peito os momentos seguintes à conversão da alma. A transformação interior, libertadora, faz soltar todos os sentidos, a exemplo do coxo de Actos 3. O judeu, culturalmente, dava abertura à sua alegria, perpetrada em festas de arromba. A Bíblia Hebraica oferece-nos registos de abundantes festas onde o exercício dos sentimentos estava bem presente.
Os cristãos evangélicos deixaram que a sua história fosse carregada de um sentimento regulador quanto aos sentimentos de libertação e transformação. Acho que bebemos demasiado de uma influência romanizante, proveniente de um catolicismo a que a maior parte de nós fomos "resgatados". Somos, muitas vezes, obrigados a regular a nossa alegria porque ela é achada desenquadrada no tempo e no espaço que ocupamos. Cantar tornou-se quase a única forma de expressar sentimentos de fé e o cântico "estamos muito alegres" o hilário do nosso hinário de sentimentos evangélicos.
Temos de compreender que a fé é muito mais que regras. Ela é para ser vivida a toda a extensão da vida. As obrigações religiosas não são as únicas que trazem prazer diante de Deus. Também as obrigações familiares, sociais, laborais, escolares, físicas. Precisamos ver os efeitos de transformação do que Jesus já efectuou em nós, retirar isso da moldura a que estamos presos, para encontrar a dimensão real da transformação que já aconteceu, certamente, mas que ainda não foi totalmente compreendida. A fé tem muito de sentimentos! A fé tem a particularidade de acusar-nos da mudança e fazer disparar o indicador dos sentimentos, manifestados perante Aquele a Quem a nossa alma está profundamente grata - ao Salvador! Já agora, deixemos essa Luz entrar! Recordo com alegria o hino antigo, cujo estribilho era: -"Deixa a Luz do Céu, deixa a Luz do Céu entrar. Abre bem a porta do teu coração. Deixa a Luz do Céu entrar."

novembro 12, 2005

Marcos 1.35-39

A maioria das pessoas da vila de Naum permaneceu acordada toda a noite. As curas realizadas no fim do dia anterior haviam dado insónias, até a Jesus. A emoção do Homem-Deus chegou ao rubro, ao ver uma multidão de corações libertados da opressão que sempre os escravizou. Retirar o jugo pesado do pecado, das trevas, da opressão demoníaca, era para Jesus emocionante demais. Era razoável que a noite fosse longa e as horas do sono alargadas. Mas as grandes Pessoas, normalmente dormem pouco! Os vencedores não descansam à sombra das vitórias alcançadas. O momento imediato à vitória exige vigilância, dependência na fonte da conquista.
Muitos são os cristãos que se encostam às "boxes" depois de um momento melhor na vida. Quando alcançam o topo, baixam as defesas. Baixam os padrões depois da vitória! Movidos pela nossa humanidade, no lugar de Jesus, teríamos marcado com os discípulos um almoço especial de celebração no restaurante da nossa escolha. De facto, o momento era propício, e justificava-se plenamente.
A intensidade das vitórias nunca retira do caminho as pessoas com sentido de missão. A perspectiva divina notabiliza-se até que tudo esteja consumado. E para Jesus, nem a vitória O fazia perder de vista a missão que O esperava mais à frente. Uma vitória nunca marca o fim de alguma coisa mas apenas o início. E O Mestre sabia-o muito bem!
A vitória pode ser um rebuçado do inimigo para nos fazer parar. Ela pode atrasar-nos no percurso que deve conduzir-nos, com sentido, com orientação, com determinação. Quantos se confundem nas circunstâncias colocando o dedo de Deus onde Ele nunca esteve? Muitos vêem nos acontecimentos diários aquilo se não desejam ver?vitórias que nunca existiram e derrotas que longe estiveram de acontecer? Somos movidos, na nossa humanidade, por sentimentos de vitória que desejamos alcançar e construímos muros de obsessão que jamais existirão.
O Mestre evidencia um forte sentido de dependência no Pai Celestial. A boa intimidade nunca pode ser relegada, naqueles que querem caminhar até o fim. A oração é um bom substituto ao sono. Provou-o Jesus!
Há anos atrás, movido pelas palavras de Lamentações 2.19, desejei começar um grupo de "vigilantes da noite". Foram convidados muitos homens para interromperem o seu sono, no princípio das vigílias, todas as quartas-feiras, a fim de intercedermos pelas vidas das crianças. Apenas eu e outro amigo, nos prontificamos a iniciar este plano de intercessão. Jesus juntar-se-ia ao grupo dos "vigilantes da noite", estou certo!
O pormenor de Marcos - "Todos te buscam" (v.37), sugere uma pressão vinda do exterior. Por outras palavras, depois do que Jesus fez, fazia sentido na cabeça de Pedro e dos demais que O Mestre estivesse disponível para ser saudado pelos Seus actos. Pedro foi, algumas vezes, adepto da notariedade. Quantos cristãos buscam isso também! Jesus prefere O Pai Celestial à presença dos aclamados. Havia sempre lugar para estar com os pecadores, mas mais na necessidade deles do que na sua aclamação! Para as pessoas com elevado sentido de missão é aquilo que nutre a alma que é procurado. Não o que alimenta o ego!
Não faltarão pessoas que servirão de travão aos intentos da alma que é nobre. Aqueles que mais estorvam o desempenho dos dedicados, são os que estão mais perto deles estão. Aconteceu com Jesus! O Mestre sabia que, se pudessem, os habitantes de Cafarnaum O "prenderiam" ali. Queriam-No só para eles! Noutras ocasiões aconteceu o mesmo: - multidões seguiam a Jesus por causa da multiplicação do alimento. Por maior que fosse o amor de Jesus pelas multidões necessitadas, jamais o Seu ministério seria confinado a um grupo restrito. Gosto das palavras de Lucas - "É necessário que Eu anuncie o Evangelho do Reino de Deus, também às outras cidades, pois para isso é que fui enviado" (4.43). O sentido de missão atinge um nível bem elevado aqui. Nunca nos perderemos desde que sigamos pela estrada! Os atalhos são uma escolha do servo que deseja encurtar caminho e alcançar o fim sem pagar o preço que a missão exige.
No grande coração do Mestre havia espaço para outros pecadores. A geografia do espaço serviu de forma a Jesus, de maneira a organizar o cumprimento da Sua missão. Na Galileia¹ havia outras cidades, repletas de pessoas endemoninhadas, escravas das trevas, a quem convinha anunciar O Evangelho do Reino. Marcos remata - "Então, foi por toda a Galileia, pregando nas sinagogas deles e expelindo demónios" (v.39). Em todo o lugar as pessoas são iguais! Em Jesus, os métodos pouco mudavam! Os fins atingiam o ser indefeso fragilizado pelo efeito do pecado, mas os resultados, esses, marcavam para a eternidade aqueles que tinham a felicidade de com Ele se cruzarem!
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¹Lucas menciona a Judeia (4.44) em vez de Galileia. O escritor Lucas quer chamar a atenção para o grande alcance geográfico da missão de Jesus ao informar-nos que ele se estendeu com o mesmo ritmo até a Judeia; ou, podemos estar na presença de um erro de copista (de notar que Lucas continua em 5.1, descrevendo a narrativa na Galileia).

novembro 11, 2005

"Tudo o que se diga na Terra sobre Jesus Cristo nunca chegará a ultrapassar o que Dele se fala no Céu." (Toresco)

outubro 10, 2005

Marcos 1.32-34

A cidade não dormiu naquela noite. O engarrafamento da via principal era enorme. O tráfego era humano. Algo parecido com uma Olimpíada. A mobilização era estranha e inédita, dirigida a todos os enfermos do corpo e da alma. Doentes de toda a espécie e endemoninhados aguardavam o momento desejado de uma cura acalentada. Era um encontro pouco comum, numa hora pouco comum para os habitantes do local e num local também pouco comum. Todos esperavam libertação mas poucos aguardavam conscientemente o cumprimento da promessa de Isaías 53.4 - "Verdadeiramente Ele tomou sobre Si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre Si" O escritor Mateus vê neste acontecimento o cumprimento desta profecia. E ainda que a crença não fosse generalizada, o que poderia perder um doente que sempre confiou nos médicos sem obter uma resposta positiva, se não experimentar o poder milagroso do Messias que agora era anunciado? Nunca nada semelhante havia jamais acontecido na "vila de Naum", no hebraico. No grego, Cafarnaum, onde a fama de Jesus foi célere e de modo tal que atraiu toda a circunvizinhança da Galileia, conforme nos especifica Marcos em 1.28.
De toda a descrição sinóptica do facto narrado nestes poucos versículos, Marcos é, como sempre, o escritor que nos fornece mais pormenores. A esta altura da descrição do Ministério de Jesus, na óptica de Marcos, tudo indica que já se tornara difícil para ele descrever todos os sinais e milagres que até esta altura da narrativa Jesus tinha feito. Resumindo a ordem dos milagres, por descrição de Marcos, a "cura do endemoninhado de Cafarnaum" é o primeiro, de seguida a "cura da sogra de Pedro" e nos versículos analisados aqui, Marcos dá-nos a conhecer um aspecto notável do Ministério de Jesus que é a suficiência do Mestre na "cura colectiva". Ela não aconteceu de forma tão amiúde no percurso do Ministério de Jesus. O Salvador dedicava-se, tanto quanto possível, ao indivíduo, ao atender as suas necessidades e ao esclarecer as suas dúvidas. Ele preferia o encontro pessoal e a palavra dirigida ao necessitado com olhos nos olhos. Sim, mas a ânsia pela cura era tanta naquele fim de dia e a pressão sobre o Mestre, causada por uma necessidade atroz que corroía o povo daquele lugar, que levou O Salvador a atender de uma forma viva e quase geral às necessidades físicas e espirituais dos enfermos que se apresentaram. O misto dos necessitados, aqui separados em grupos, também este um aspecto curioso que Marcos deixa saliente, não deixa dúvidas na relação entre doença física e espiritual. Devido à ausência do poder da Palavra pregada pelos profetas, onde apenas a Lei procurava semear o coração dos homens durante um longo período de tempo, os males físicos acumularam-se. Sim, as doenças físicas eram também resultado do efeito das muitas almas ocupadas pelas forças das trevas, em corações desocupados de qualquer "substância" espiritual. Sem querer passar a impressão de que todo o mal físico tem origem espiritual, convém chamar a atenção para a relação que existe, a nível do ser, entre ambas as realidades: física e espiritual. Se é verdade que hoje se faz um uso desmedido da pregação a favor da cura dos males físicos, não será por isso que se perca a dimensão e o alcance dos efeitos espirituais nocivos causados na forma como as pessoas governam as suas vidas em áreas como o sexo, a alimentação, o divertimento, etc. O coração habitado pelo poder do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, produz no discípulo a piedade e a sobriedade em matérias de foro físico, resultado do mesmo efeito na área espiritual.
Marcos acrescenta um elemento curioso à narrativa, sendo ele o único que o faz. Ele preocupa-se em dar-nos este belo detalhe no versículo 33 "Toda a cidade estava reunida à porta". A que porta se refere Marcos? À porta da casa de Pedro, onde a sua sogra tinha sido curada e onde O Mestre havia de pernoitar? Para o investigador bíblico poderia colocar-se a possibilidade de este encontro com os doentes ter-se dado junto às portas da cidade, um lugar ainda comum para a resolução de algumas causas e problemas da população (foi aí que no passado os juízes começaram por julgar as causas do povo). Ao repreender a doença junto às portas da cidade, simbolicamente, naquele dia e naquele local, o Salvador estaria a julgar o poder das trevas. Ele estaria a aplicar a sentença sobre aquilo que havia governado o coração do povo de Deus durante os últimos séculos. Antes de vencer o poder das trevas, em definitivo, na Cruz do Calvário, o nosso Salvador desferiu, no decorrer do Seu Ministério, potentes golpes perante a grande limitação espiritual que absorvia o povo. Este foi um desses momentos. Marcos faz referência a outros?
O elemento que reforça a possibilidade de "esta porta" ser a da casa de Pedro, ou da sogra deste, aparece no texto perante toda a harmonia da descrição. Tudo indica que a cura da sogra de Pedro, ainda que tenha acontecido no contexto familiar, passou para fora de portas, a ponto da multidão de enfermos ter tempo de reunir-se junto à casa deste. Tudo indica que era sábado! Jesus e alguns dos seus discípulos tinham vindo da sinagoga e discutiam sobre algum assunto ali levantado enquanto se dirigiam para a casa da sogra de Pedro. Se assim for, Jesus "quebrou" a Lei ao curar a sogra de Pedro no sábado. Esta é uma evidência do cumprimento das palavras que o próprio Cristo haveria de proferir mais tarde aos fariseus que O interrogaram - "o sábado foi feito por causa do homem e não o homem por causa do sábado" (2.27) e "O Filho do Homem até do sábado é senhor" (Mateus 12.8). Mas enquanto que a cura aconteceu num círculo familiar e dentro de portas, não era possível ao judeu comum transportar os doentes em dia de sábado. É aqui que Marcos inclui um pormenor interessante ao dizer-nos que "sendo já tarde, tendo-se posto o sol, trouxeram-Lhe todos os que se achavam enfermos e endemoninhados". O povo de Cafarnaum esperou que o dia de sábado acabasse para que a oportunidade de cura acontecesse. Ao ver-se rodeado de tamanha multidão de doentes e endemoninhados, provavelmente clamando por Ele do lado de fora, O Mestre saiu e ali às portas da casa Ele curou os necessitados do corpo e da alma.
É às portas do coração que o nosso ser espiritual é julgado. É aí que o poder das trevas, ainda hoje tão notório, recebe o duro golpe da nossa fé e desaba por terra os intentos do mal. É às portas do coração que o triunfo se dá, porque uma vez alojado o mal nele, corre o risco de corroer as artérias da alma. Só o poder do nosso Salvador poderia resgatar as almas ocupadas, não apenas pelas evidências de uma humanidade que os dilacerava por dentro, mas também pela presença alojada dos demónios em tantos corações.
Fica a pergunta: "Porque Jesus impedia que os demónios falassem da Sua divindade?" Provavelmente porque a descoberta que o povo precisava fazer do Salvador carecia de uma investigação pessoal do desejo de ser salvo, de ser amado, de ser resgatado pelo próprio Deus. E Jesus recompensou todos aqueles que O desejaram buscar com um desejo ardente de procura. Foi assim com Zaqueu, o homem baixinho, desprezado e impossibilitado, que subiu a uma árvore carregando um desejo intenso de conhecer o Mestre. Acontecerá, hoje, com todos quantos tenham o ardente desejo de descobrir por si mesmos a verdadeira Pessoa de Jesus Cristo, para Dele receberem os favores eternos que atingem e influenciam o percurso terreno, enquanto seres com vontade de escolha.

agosto 04, 2005

Marcos 1.29-31

O segundo milagre que Marcos inclui no seu Evangelho, o terceiro de Mateus e o segundo de Lucas, é caseiro. Foi contemplado por poucos; aconteceu debaixo dos telhados do discípulo Pedro, num círculo bem restrito ainda. Os outros evangelistas limitam-se a "copiar" o relato que Marcos faz do episódio, oralmente proferido por Pedro a este. Mateus inclui a cura do leproso primeiro (Mateus 8.1-4) e Lucas obedece fielmente ao registo cronológico de Marcos.
Os relacionamentos humanos em Israel eram alicerçados, ainda, num conceito de solidariedade nacional. As circunstâncias sociais eram propícias. Havia necessidade de combater um inimigo único. Nenhum bom judeu desejava o domínio estrangeiro, europeu. As acções de insurgimento político eram desgarradas porque, em consciência, o povo esperava um Messias também politicamente redentor. A solidariedade estava também alicerçada no conceito de unidade nacional. Era um povo que debatia as ideias, produto de muito tempo passado na sinagoga, de onde tinham vindo e sobre qualquer tema ali levantado discutiam.
O episódio mostra-nos um Jesus amigo, companheiro, solidário, camarada, oportuno. Muito oportuno! Qualidade, aliás, manifestada no decorrer de todo o seu ministério. Não foi este um milagre perante a multidão mas marcou profundamente os assistentes. Uma febre alta em Israel, nesta altura, poderia levar à morte. Grave ou não, o estado da sogra de Pedro impedia-a de servir os outros, os convidados. Terá sido este o primeiro contacto de Jesus com a sogra de Pedro? O trabalho de Deus na vida das pessoas não acontece primeiramente no dia da conversão do pecador. Por vezes, cria-se a ideia que Deus só se aproxima do pecador quando o pecador se aproxima Dele. É uma teologia errada esta!
Um dos ingredientes muito usados por Jesus no decorrer do Seu ministério foi ao encontro da necessidade do indivíduo, como pessoa. Vejo um Jesus a utilizar-se dos seus atributos divinos a fim de favorecer seres cativos. Não é tanto a religiosidade mas mais a humanidade que pesa para o Mestre. A teologia dos nossos dias precisa caminhar por aí. Levar Deus, a fim de produzir esperança!
Poderá parecer, à primeira vista, que estou a falar de acção social. Nada disso! A acção social não devia existir. Devia ser, antes, acção pessoal. Esse foi o ingrediente produzido pelo Mestre. Ele nunca desassociou a necessidade física e emocional do indivíduo da sua necessidade espiritual. Ele também nunca se enganou a Si mesmo, iludindo o indivíduo com a mensagem do "vai em paz, o Senhor é contigo". Pelo contrário, vemos um Jesus partilhando as cargas dos outros mesmo quando nada parece grave. Ele acompanhava o sentimento das pessoas e agia em conformidade com a dor do coração (na morte de Lázaro, no caso de Jairo, etc).
Jesus reabilitou a sogra de Pedro pela acção do coração. O que mais incomodava a sogra de Pedro? A febre alta ou a incapacidade de poder servir o Mestre? Eu prefiro a segunda! A referência que Marcos faz nas palavras "...e a febre a deixou, passando ela a servi-los", é enfática para a compreensão das limitações humanas e o verdadeiro trabalho de Deus em nós. Jesus compreendeu o "sofrimento emocional" da sogra de Pedro e agiu em conformidade com a necessidade do coração.
Os discípulos de Cristo sofrem de uma patologia generalizada de impedimento de serviço. Provavelmente, na grande maioria, mais urgente que aplicar uma "dose de Evangelho" é conseguir compreender onde está a necessidade real do indivíduo, porque de alguma forma, ajudando-o a compreender a coordenada espiritual face às suas necessidades emocionais, produziremos pessoas aptas para servir entusiasticamente o Mestre.

fevereiro 21, 2005

Marcos 1.21-28

Marcos inicia a descrição do ministério público de Jesus Cristo começando pela Galileia; omite o curto ministério na Judeia, logo após o Seu baptismo (João 2.13 e 4.3). Após a prisão de João Baptista, Jesus troca a Judeia pela Galileia! Há uma posição estratégica de Jesus nesta decisão, até porque a prisão de JB viria a trazer sobre Jesus todas as atenções uma vez que ele o havia apontado como "aquele que baptizaria com fogo". Ora continuando na Judeia, perto do domínio e das autoridades políticas e religiosas, a oposição que caía sobre JB passaria por certo para Jesus. Ele achou que era cedo para enfrentar estas hostes. Outras razões podem ser apontadas como justificativa para esta deslocalização geográfica do ministério: além das apresentadas anteriormente (ver comentário de Marcos 1.14-15), é de referir a importância geo-estratégia da Galileia, de que Jesus não era alheio, pois as principais estradas comerciais passavam por esta região política, o que resultava para o galileu num contacto com viajantes vindo de regiões como Egipto, Arábia, Síria e outras nações. Por vezes, preferimos falar do início e do progresso do Evangelho a partir do Dia de Pentecostes (Actos 2), contudo, não podemos esquecer que o ministério de Jesus por toda a Nação deixou a semente da sua mensagem semeada em muitos corações; os milagres operados à vista de muitos viajantes deixaram em muitas almas a certeza de que Deus tinha visitado o mundo com a sua graça; muitos destes responderam ao convite do Evangelho quando a mensagem do Salvador chegou às suas terras através dos servos do Senhor.
Aqueles que não vêm Jesus também como um estratega, enganam-se! Marcos faz-nos o favor de referir a primeira cidade da Galileia para onde Jesus viajou. Cafarnaum era uma das lindas 9 cidades que floresciam ao redor do Mar da Galiléia. Outro aspecto curioso é a referência feita à visita à sinagoga logo no primeiro sábado em presença. Jesus não esperou muito tempo para criar impacto nos que frequentavam a sinagoga. Diz Marcos que os judeus se "maravilhavam da sua doutrina, porque os ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas". A mensagem de Jesus foi dirigida com uma certa urgência aos corações mal ocupados, mal ensinados, mal esclarecidos e, por essa razão, é clara e distinta a diferença de conteúdos do ensino de Jesus Cristo, atraindo as pessoas como no caso do homem possesso do espírito imundo.
Diz-se acerca do Evangelho de Marcos, e com muita razão, que "ele se ocupa mais com aquilo que Jesus fez no Seu ministério público do que com aquilo que Ele disse" (basta referir que Marcos não refere o chamado Sermão do Monte, nem as extensas mensagens dos capítulos 14 a 17 do Evangelho de João, por exemplo). Em Marcos, as mensagens são curtas e as acções descritivas; é o caso do primeiro milagre apontado em Marcos 1.23-26, ao que tudo indica aconteceu em plena sinagoga. Surpreender-nos-á o facto deste primeiro milagre em terras galileias ser a cura de um homem possesso de um espírito imundo? (Marcos não refere a transformação da água em vinho, a que João classificou em 2.1-11 como o primeiro milagre feito na presença dos seus discípulos). Não nos pode surpreender a existência de um forte poder das trevas nos tempos em que Jesus desceu do Céu à terra. Já a profecia dizia: "e o povo que andava nas trevas viu uma grande luz, e aos que viviam na região da sombra da morte..." (Isaías 9.2). O que terá causado tamanhas trevas e o porquê da possessão dos demónios, habitando com frequência a alma dos vivos? Muitas dificuldades de compreensão por parte dos estudiosos bíblicos podem ser esclarecidas se recuarmos para o chamado "período interbíblico ou intertestamentário". Foram cerca de 400 anos de silêncio, sem profetas a fazer soar a voz de Deus; foram 400 anos sem proclamação, sem correcção, sem emenda espiritual. Durante esse período as forças das trevas desceram à terra e fizeram morada nos corações dos homens, as virtudes e os valores espirituais foram profanados e o povo tornou-se profundamente carente da salvação regeneradora. Entende-se, claramente, que a existência deste período só poderia antecipar a chegada do Messias, mas todo o estudioso honesto das Escrituras se sentirá forçado a perguntar: porque Te "calaste" tanto tempo, Senhor?

janeiro 03, 2005

Marcos 1.16-20

Curiosamente, Marcos dá-nos registo de chamada a apenas cinco dos doze apóstolos. São eles Simão e André, Tiago e João, e Levi, isto é, Mateus. Exclui Filipe e Natanael que o Evangelho de João regista.
Quando somos ensinados a respeito da chamada dos discípulos, mais tarde apóstolos, fica-se com a ideia que a chamada se dá em bloco. De facto, nem todos os discípulos foram chamados pelo Mestre na mesma altura. Há episódios diferenciados no tempo. Não devemos surpreender-nos quando um grupo mais íntimo de discípulos emerge naturalmente em certos cenários. Eles: Pedro, André, Tiago e João, foram os primeiros discípulos escolhidos e partilharam da experiência física de estar com O Mestre mais tempo que qualquer um dos outros, embora o Evangelho de João nos relate que o encontro de Filipe e Natanael tenha ocorrido no dia seguinte à chamada de Pedro e André, Tiago e João (João 1.43). Quando era criança, surpreendia-me como os discípulos seguiram Jesus logo que Ele os chamou; ficava com a ideia que tudo era muito "mágico". Sabemos que há encontros que antecedem a chamada difinitiva de Jesus aos seus discípulos, pelos menos a alguns; o mesmo terá acontecido com os outros. Levi, por exemplo, cujo registo de chamada só não aparece no Evangelho de João, os demais Evangelhos o incluem, não terá deixado a "repartição de finanças" de Cafarnaum sem apresentar demissão do cargo, até porque o homem deveria ter contas para apresentar. Não restam dúvidas de que Mateus já havia sido contactado ou influenciado pelo Mestre anteriormente, tal como os demais apóstolos, tendo em conta que pelo menos dois deles eram anteriormente discípulos de João, o Baptista.
Todos os registos de chamada, feito aos discípulos, deixam transparecer uma evidência que jamais se nos deve escapar - Todos os discípulos foram chamados quando estavam no seu local de trabalho! O que podemos aprender com esta evidência? Este método de Deus já vem de longe. A maioria dos profetas foram resgatados a um contexto laboral! A chamada do profeta Eliseu, por exemplo, sempre me impressionou pela realidade do momento, pela oportunidade da ocasião. O chavão:-"Deus chama pessoas ocupadas", cumpriu-se claramente na vida daqueles que receberam de Jesus a ordem "ide por todo o mundo e pregai O Evangelho a toda a criatura". Não creio que O Senhor da Seara use método diferente para chamar a Si os "apóstolos do nosso tempo".

dezembro 03, 2004

Marcos 1.14-15

De acordo com Marcos, João Baptista não terá tido um ministério muito prolongado depois que baptizou Jesus no rio Jordão. As razões da sua prisão estão narradas no mesmo capítulo seis que fala da sua morte também. Apesar de primos em segundo grau, Jesus e João, o Baptista, ter-se-ão encontrado poucas vezes; se tal aconteceu porque não nas festas anuais em Jerusalém para onde concorriam todos os bons judeus vindos do norte (a presença de Jesus nas festas no templo aos doze anos será uma indicação plausível da sua regular assistência pelos anos subsequentes). Certamente!
Marcos regista de forma documental a acção de Jesus logo que soube que João havia sido preso. Sendo por demais evidente para Jesus que JB não sairia com vida do cárcere, O Filho de Deus inicia o Seu ministério terreno indo para as bandas da Galiléia Norte. Coincidência ou não, perguntamos a nós mesmos:- "porque não foi Jesus para a Judeia, local onde JB tinha semeado O Evangelho do arrependimento"? É apenas com um sentido geográfico em mente que o nosso Salvador inicia o seu ministério em terras da Galiléia, de forma a dar uma cobertura maior à extensão do sentido do Reino de Deus? O espaço é pouco para apontar algumas boas razões. Creio, porém, haver aqui um sentido missiológico que se nos escapa.
Todo o judeu, ainda que não fosse versado nas leis sabia que Galileia significava "o círculo dos incrédulos". Era a província onde sempre predominou a maior mistura de raças. Quem eram, na sua maioria, os habitantes da Galileia? Eram os chamados "am-ha-arez"? Quem eram os "am-ha-arez"? A palavra significa "o povo da terra". Ao longo dos anos a variedade de grupos humanos que habitaram esta parte da Palestina foi grande. Para os definirmos historicamente teríamos de voltar aos tempos de Abraão e fazê-los passar pela ausência dos judeus na Babilónia, altura em que as terras da Palestina foram ocupadas por povos diversificados: samaritanos, arameus, filisteus e mesopotâmios. Os judeus conhecedores da história, rabinos e doutores da Lei, sacerdotes e demais do tempo de Jesus ainda mantinham na memória e no coração imperdoado a usurpação das terras por parte de todos estes grupos. Esses que permaneciam na Galileia no tempo de Jesus eram os "am-ha-arez" da História. O conceito atribuido aos "am-ha-arez" era fortemente negativo por parte dos fariseus e demais grupos religiosos, políticos e sociais. Ora Jesus foi inclusivamente considerado pelos principais dos sacerdotes e fariseus um "am-ha-arez" conforme as palavras de João 7.49-52. De acordo com eles, jamais Deus usaria notoriamente um "am-ha-arez" - "Examina e verás que da Galileia não se levanta profeta". O engano da classe religiosa dos tempos de Jesus foi abismal. Dentre os residentes da Galileia, "o povo da terra" haveriam de surgir inúmeros corações predispostos, abertos à mensagem anunciada pelo Salvador - "o tempo está cumprido e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no Evangelho".
É uma motivação missiológica a que leva Jesus Cristo à Galileia. Ali residiam os corações despidos de preconceitos para com o Messias, carentes e sensíveis à chamada para o Reino de Deus. Destes se formaria uma classe de discípulos que jamais deixariam de cobrir o mundo com a mensagem de arrependimento e de fé na Boa Nova anunciada pelo Salvador. Desde cedo, O Salvador, entendendo que "veio para o que era seu, mas os seus não o receberam", tratou de ir ao encontro dos tinham um espaço para Ele nas suas vidas. E "a todos quantos o receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome" (João 1.11-12). Que gloriosa estratégia!

novembro 01, 2004

Marcos 1.12-13

O deserto é local de privação! A resposta aos grandes desafios de Jesus Cristo, enquanto Homem, foram precedidos por períodos de privação. O deserto marcou o início da sua estadia ministerial entre nós. Foi o Homem-Deus aprovado! O jardim serviu de fronteira aos limites da privação que se exigia ao Deus-Homem, prestes a oferecer-Se Substituto. Existe algo de comum entre ambos; os dois oferecem alguma privação. A privação é, em última análise, o exegível a todos aqueles que querem seguir em frente! O deserto e o jardim ficarão para sempre associados ao percurso dos que encontram a vitória.
Todos os escritores sinópticos concordam que o deserto é parte da prova. Junto com Marcos, Mateus e Lucas concordam que a ida ao deserto é programada pelo Espírito Santo, acabado de descer em plenitude sobre o Filho Amado no baptismo do Jordão (é verdade que Lucas vai mais longe dizendo que o Messias estava "cheio do Espírito Santo"). A compreensão de toda a extensão da sua estadia no deserto jamais viremos a sabê-lo. Creio que o que ali se passou foi muito mais que a curta tentação a certa altura protagonizada por Satanás. Foram 40 dias mergulhado nos segredos agrestes de um lugar sem vida humana e de uma conversa assegurada pela presença da restante Trindade. Toda a "corte" celestial esteve ali, certamente. A companhia do deserto era animal mas o serviço era celestial (Mateus dá-nos a ideia que os anjos só serviram Jesus depois da última tentação). Algo mais aconteceu ali que os escritores bíblicos não souberam contar. Ainda que o lado humano de Jesus estivesse a ser colocado à prova, como afirmam alguns teólogos, a consequência da tentação traria resultados profundamente espirituais. Daí, algo mais fez Jesus permanecer tanto tempo naquele lugar. É verdade que o lado humano do Salvador esgotou-se naquele período; apesar de habituado ao jejum, este prolongou-se; a fraqueza era demais evidente e a fragilidade do seu corpo teria abatido até o mais forte homem. Satanás aparece quando achou ser a altura ideal. Como víbora, aguardou o melhor momento de injectar o veneno. Nada de novo na sua estratégia; o mesmo terá acontecido no Éden! Só que desta vez saiu derrotado. Terá substimado o Seu adversário por estar encarnado? Ou terá tentado a sua "sorte"?
Recuso-me a ver os 40 dias no deserto apenas como um teste ao Messias. Algo mais aconteceu ali! Todos estes que levaram até o fim os seus desígnios passaram pelo deserto: João Baptista, Jesus, Paulo nos desertos da Arábia.
Um pergunta fica por responder - "Porquê Marcos resumiu este notável acontecimento a umas poucas frases?" Possivelmente porque da boca de Jesus pouco se terá dito sobre aquele momento passado! Talvez porque sobre os momentos demasiadamente íntimos pouco se fala!

outubro 14, 2004

Marcos 1.9-11

De forma humilde o nosso Salvador desceu às águas do rio Jordão a fim de seguir o caminho dos pecadores e ser baptizado por João. Marcos limita-se a dizer: "Naqueles dias, veio Jesus de Nazaré da Galileia e por João foi baptizado no rio Jordão" (1.9). Nada de cerimónias! Juntamente com homens e mulheres, pecadores arrependidos, Jesus desceu às águas do baptismo (eu sou dos que ainda escrevem baptismo com "p").
Ao longo dos séculos, a prática do baptismo assumiu uma posição de destaque em matéria teológica. Creio que isso se deve ao mau uso que o catoliscismo deu à questão do baptismo, originando fortes reacções por parte dos puritanos e protestantes. Nada no texto bíblico parece reforçar o papel do baptismo na salvação! Não sendo o baptismo uma prática origináriamente cristã, havendo anteriormente a João ritos e práticas religiosas que incluiam o baptismo nas suas cerimónias, o que leva João, o Baptista, a adoptar o baptismo como uma prática técnica no seu ministério, dando-lhe um novo e expressivo significado. Através do baptismo, o pecador exprimia exteriormente o arrependimento do seu afastamento do Deus da Nação e a crença na vinda do Messias. A diferença da pregação evangélica é que João apontava para o Messias que havia de vir e nós hoje apontamos para o Messias que já veio e que retornará certamente! O sinal exterior e público, manifestado pelo pecador arrependido, não creio que tenha sido perpetuado até os nossos dias pela Igreja Cristã por causa do exemplo de João, mas mais por ordem do Senhor Jesus Cristo, deixada particularmente em Mateus, capítulo 28 e verso 10.
A concordância de Jesus com a prática do baptismo, apesar de João insistir que não o baptizaria (Mateus é o único dos escritores sinópticos que nos fala desta parte), e a sua ordem dada a todo o discípulo para que baptize o pecador em nome da Trindade, traz para o Cristianismo a importância do baptismo como uma evidência do que a fé produz no coração daquele que deseja ser discípulo de Jesus Cristo - "todo o que crê seja baptizado", "é lícito se crês de todo o teu coração".
A pergunta sempre permanece: "Não precisando Jesus de evidenciar sinais exteriores de arrependimento, porque desceu Ele às águas do Jordão e foi baptizado por João?" A simples resposta: "foi para se identificar com a necessidade do homem pecador" não é suficiente (alguns vão mais longe dizendo outras coisas que entram no campo da heresia); outros teólogos dizem que Jesus, ao aceitar o baptismo de João, estaria a aceitar o baptismo da sua morte (curiosamente, o apóstolo Paulo faz em Romanos 6.3 uma relação muito interessante sobre o significado do baptismo na morte).
Na descrição de Mateus, a hesitação de João em baptizar Jesus é absolutamente legítima. Faz sentido! João argumenta - "eu tenho necessidade do teu baptismo com o Espírito e fogo e tu vens ao meu baptismo de água?". São interessantes as palavras de Jesus em resposta a João: "deixa por enquanto porque assim nos convém cumprir toda a justiça" (3.15). Que justiça? A da Lei? Seria o baptismo o novo acto de circuncisão do pecador? Ninguém quer entrar por aí!
Parece-me, contudo, demais evidente que a decisão de Jesus ao descer às águas é um acto de certificação (desculpem a palavra) do ministério de João! Foi um contributo Seu de forma a conferir autoridade e legitimidade ao ministério de João Baptista; era uma maneira de concordar e cooperar com o ministério de João! Jesus inicia o Seu Ministério com o baptismo e termina-o com a ordem sobre o baptismo. Interessante!
O acto de certificação é devolvido por Deus-Pai a Jesus-O Filho, quando Ele ainda em oração (Lucas é o único que nos fala da oração), permanecendo nas águas, os céus se rasgam e uma voz certificadora diz: "Tu és o meu Filho amado em Quem tenho muito prazer". Há uma dupla certificação no baptismo de Jesus: Jesus certificando o ministério de João através do acto da participação no baptismo e conferindo-o mais tarde ao Seu Corpo-a Igreja, e a Trindade certificando o ministério de Jesus através da voz do Ceú e a presença corpórea do Espírito Santo.

outubro 09, 2004

Marcos 1.2-8

Marcos está na posse de uma cópia do capítulo 40 do profeta Isaías quando escreve o versículo 2 do primeiro capítulo do seu Evangelho. Não é a única altura em que isso acontece ao longo do seu escrito. Isso prova que Marcos não se limitou a narrar os acontecimentos, exalados da boca do apóstolo Pedro. Marcos foi um estudioso das profecias do Velho Testamento. Marcos, Mateus e também Lucas dizem que João Baptista é "a voz"; João menciona-o como "testemunha da Luz" (1.7). A convicção sobre a aplicação da profecia de Isaías a João Baptista resulta da interpretação do próprio Jesus (9.13).
Marcos respeitou a memória de João Baptista uma vez que inicia o seu Evangelho com um recorte sobre o aparecimento do "profeta" e também a sua morte merece destaque no capítulo 6 (vs.14-29), sendo, aliás, a descrição mais pormenorizada dos Evangelhos sobre o assunto. O ministério do "servo do Senhor" deixou marcas em João Marcos! Faz sentido iniciar o seu Evangelho com uma alusão pormenorizada a João Baptista visto ser sua preocupação descobrir o lugar que as pessoas ocupam na vida do Mestre. A vinda de JB (João Baptista), como preparador dos corações para a aceitação do Messias justificava-se plenamente. JB iniciou um novo estado de relacionamento divino com a Nação depois de 400 anos de silêncio. O simbolismo do "deserto de João" só pode significar o deserto espiritual que a Nãçao atravessou. Também faz sentido a pregação em forma de arrependimento, pois a geração presente não sabia o que eram os sacrifícios no Templo, profanado repetidamente durante esse tempo de silêncio. JB surge como um ousado profeta que traz uma revelação muito especial - a anunciação do lado profético do Messias - "...após mim vem Aquele que é mais poderoso do que eu...Ele vos baptizará com fogo" (vs 7-8). O baptismo de João significava a identidade com o Messias! Era a senha da transformação! Do novo Caminho para o Reino dos Céus!
Marcos não deixa escapar o aspecto bruto e pouco refinado da aparência de JB. Também isso obtem significado no aspecto relaxado da Nação para com o Seu Deus. JB não se apresentou diferente para chamar a atenção para si. Tal como aconteceu no passado com outros profetas, Ezequiel é um caso, também JB assume um ministério representativo, a título simbólico, da versão correcta do estado espiritual da Nação. Não é isso pedido a todo aquele que vem em nome do Senhor? Que modelo melhor podemos ver em JB que não o profundo estado de carência espiritual da Nação: aparência espiritual rica (pêlos de camelo e cinto de couro) e uma ementa espiritual pobre (gafanhotos e mel silvestre)

outubro 04, 2004

Marcos 1.1

Quem lê o Evangelho de Marcos surpreende-se ao não encontrar a narrativa do nascimento de Jesus Cristo. O seu Evangelho inicia-se com a descrição da "voz do que clama no deserto", uma referência clara a João, o Baptista. Toda a narrativa da vida de Jesus, anterior à primeira descrição, está resumida no início do seu Evangelho. Marcos usa a frase - "Princípio do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus". Ao atribuir a Jesus Cristo o título "Filho de Deus", Marcos encerra toda a verdade sobre o nascimento de Jesus Cristo numa única frase. Ele sente que os factos sobre o nascimento e infância de Jesus Cristo não são relevantes para os seus leitores. Marcos concentra-se no Homem que é Deus! No seu Evangelho, reflecte muito bem o carácter experimental do ser humano no encontro com o Filho de Deus. Marcos descreve com precisão os sentimentos de todos aqueles que se confrontaram com o Mestre, recebendo benção, instrução ou correcção. Marcos é um perito em ler reacções e descrevê-las e isso tem muito a ver com o carácter que conhecemos dele. Em muitos casos, o leitor pode muito bem entrar em cena e sentir o mesmo que sentiu o próprio interveniente, pois Marcos "explica", melhor que qualquer outro escritor os sentimentos daqueles que se ligaram a Jesus. O nascimento de Jesus Cristo e a sua infância tornam-se "irrelevantes" para um escritor que não necessita de provar o carácter divino do seu Salvador. Isto poderá ser uma prova de que o escritor terá partilhado da presença do Mestre em alguma altura da sua vida, ou a fonte de onde bebe a narrativa é de alguém que partilhou activamente dos acontecimentos.

setembro 29, 2004

Quem foram as crianças abençoadas por Jesus? Não seria João Marcos uma dessas crianças? Algo muito especial terá acontecido com todas elas, certamente. Se a tradição está correcta ao atribuir a João Marcos a autoria do Evangelho, bem poderia ter sido ele uma das crianças abençoadas por Jesus no episódio narrado em Marcos 10.13-16. O seu percurso e ligações familiares tê-lo-ão colocado em contacto com o Mestre quando era mais novo. A mãe de João Marcos abria as portas de sua casa para acolher uma igreja (Actos 12.12) e o seu primo Barnabé tornou-se influente por fazer parte da primeira equipa missionária em parceria com o apóstolo Paulo, que sai de Antioquia (Actos 12.15) e à qual ele se junta mais tarde (Actos 15.37-39). Anos depois, torna-se colaborador do apóstolo Pedro (1Pedro 5.13), altura em que terá recebido deste a descrição "fotográfica" que resulta no Evangelho Segundo Marcos.

setembro 25, 2004

A teologia fundamenta-se no Ser e no Fazer de Deus. Não é tanto o que os homens dizem sobre Deus mas o que Deus diz de Si mesmo. A revelação de Deus está na génese da teologia! E o estudo da revelação levar-nos-á à teologia. Porconseguinte, a teologia de Jesus Cristo, isto é, o exercício do Seu Ser e do Seu Fazer só pode ser entendido e estudado nos fundamentos da Sua revelação: de Deus Pai e de Si mesmo, o Filho (Lucas 10.22). São as Suas palavras, os Seus ensinos e as Suas obras que caracterizam a Sua teologia. Para chegarmos a conhecê-la teremos de aprofundar-nos no estudo da Sua vida. Ora o contributo dos escritores sinópticos é fundamental, muito mais porque aceitamos as Escrituras como única regra de fé e prática.
Numa época fortemente caracterizada por um intelectualismo teológico, convém que no início do século XXI, uma nova geração de "teólogos" se levante, despida das conquistas teológicas adquiridas nos séculos IXX e XX, num composto de conservadorismo e liberalismo, para um estudo honesto da Pessoa e Obra de Jesus Cristo que resulte numa oferta à Humanidade do Deus que lhe faz falta - O Deus verdadeiro.