outubro 09, 2004

Marcos 1.2-8

Marcos está na posse de uma cópia do capítulo 40 do profeta Isaías quando escreve o versículo 2 do primeiro capítulo do seu Evangelho. Não é a única altura em que isso acontece ao longo do seu escrito. Isso prova que Marcos não se limitou a narrar os acontecimentos, exalados da boca do apóstolo Pedro. Marcos foi um estudioso das profecias do Velho Testamento. Marcos, Mateus e também Lucas dizem que João Baptista é "a voz"; João menciona-o como "testemunha da Luz" (1.7). A convicção sobre a aplicação da profecia de Isaías a João Baptista resulta da interpretação do próprio Jesus (9.13).
Marcos respeitou a memória de João Baptista uma vez que inicia o seu Evangelho com um recorte sobre o aparecimento do "profeta" e também a sua morte merece destaque no capítulo 6 (vs.14-29), sendo, aliás, a descrição mais pormenorizada dos Evangelhos sobre o assunto. O ministério do "servo do Senhor" deixou marcas em João Marcos! Faz sentido iniciar o seu Evangelho com uma alusão pormenorizada a João Baptista visto ser sua preocupação descobrir o lugar que as pessoas ocupam na vida do Mestre. A vinda de JB (João Baptista), como preparador dos corações para a aceitação do Messias justificava-se plenamente. JB iniciou um novo estado de relacionamento divino com a Nação depois de 400 anos de silêncio. O simbolismo do "deserto de João" só pode significar o deserto espiritual que a Nãçao atravessou. Também faz sentido a pregação em forma de arrependimento, pois a geração presente não sabia o que eram os sacrifícios no Templo, profanado repetidamente durante esse tempo de silêncio. JB surge como um ousado profeta que traz uma revelação muito especial - a anunciação do lado profético do Messias - "...após mim vem Aquele que é mais poderoso do que eu...Ele vos baptizará com fogo" (vs 7-8). O baptismo de João significava a identidade com o Messias! Era a senha da transformação! Do novo Caminho para o Reino dos Céus!
Marcos não deixa escapar o aspecto bruto e pouco refinado da aparência de JB. Também isso obtem significado no aspecto relaxado da Nação para com o Seu Deus. JB não se apresentou diferente para chamar a atenção para si. Tal como aconteceu no passado com outros profetas, Ezequiel é um caso, também JB assume um ministério representativo, a título simbólico, da versão correcta do estado espiritual da Nação. Não é isso pedido a todo aquele que vem em nome do Senhor? Que modelo melhor podemos ver em JB que não o profundo estado de carência espiritual da Nação: aparência espiritual rica (pêlos de camelo e cinto de couro) e uma ementa espiritual pobre (gafanhotos e mel silvestre)