agosto 04, 2005

Marcos 1.29-31

O segundo milagre que Marcos inclui no seu Evangelho, o terceiro de Mateus e o segundo de Lucas, é caseiro. Foi contemplado por poucos; aconteceu debaixo dos telhados do discípulo Pedro, num círculo bem restrito ainda. Os outros evangelistas limitam-se a "copiar" o relato que Marcos faz do episódio, oralmente proferido por Pedro a este. Mateus inclui a cura do leproso primeiro (Mateus 8.1-4) e Lucas obedece fielmente ao registo cronológico de Marcos.
Os relacionamentos humanos em Israel eram alicerçados, ainda, num conceito de solidariedade nacional. As circunstâncias sociais eram propícias. Havia necessidade de combater um inimigo único. Nenhum bom judeu desejava o domínio estrangeiro, europeu. As acções de insurgimento político eram desgarradas porque, em consciência, o povo esperava um Messias também politicamente redentor. A solidariedade estava também alicerçada no conceito de unidade nacional. Era um povo que debatia as ideias, produto de muito tempo passado na sinagoga, de onde tinham vindo e sobre qualquer tema ali levantado discutiam.
O episódio mostra-nos um Jesus amigo, companheiro, solidário, camarada, oportuno. Muito oportuno! Qualidade, aliás, manifestada no decorrer de todo o seu ministério. Não foi este um milagre perante a multidão mas marcou profundamente os assistentes. Uma febre alta em Israel, nesta altura, poderia levar à morte. Grave ou não, o estado da sogra de Pedro impedia-a de servir os outros, os convidados. Terá sido este o primeiro contacto de Jesus com a sogra de Pedro? O trabalho de Deus na vida das pessoas não acontece primeiramente no dia da conversão do pecador. Por vezes, cria-se a ideia que Deus só se aproxima do pecador quando o pecador se aproxima Dele. É uma teologia errada esta!
Um dos ingredientes muito usados por Jesus no decorrer do Seu ministério foi ao encontro da necessidade do indivíduo, como pessoa. Vejo um Jesus a utilizar-se dos seus atributos divinos a fim de favorecer seres cativos. Não é tanto a religiosidade mas mais a humanidade que pesa para o Mestre. A teologia dos nossos dias precisa caminhar por aí. Levar Deus, a fim de produzir esperança!
Poderá parecer, à primeira vista, que estou a falar de acção social. Nada disso! A acção social não devia existir. Devia ser, antes, acção pessoal. Esse foi o ingrediente produzido pelo Mestre. Ele nunca desassociou a necessidade física e emocional do indivíduo da sua necessidade espiritual. Ele também nunca se enganou a Si mesmo, iludindo o indivíduo com a mensagem do "vai em paz, o Senhor é contigo". Pelo contrário, vemos um Jesus partilhando as cargas dos outros mesmo quando nada parece grave. Ele acompanhava o sentimento das pessoas e agia em conformidade com a dor do coração (na morte de Lázaro, no caso de Jairo, etc).
Jesus reabilitou a sogra de Pedro pela acção do coração. O que mais incomodava a sogra de Pedro? A febre alta ou a incapacidade de poder servir o Mestre? Eu prefiro a segunda! A referência que Marcos faz nas palavras "...e a febre a deixou, passando ela a servi-los", é enfática para a compreensão das limitações humanas e o verdadeiro trabalho de Deus em nós. Jesus compreendeu o "sofrimento emocional" da sogra de Pedro e agiu em conformidade com a necessidade do coração.
Os discípulos de Cristo sofrem de uma patologia generalizada de impedimento de serviço. Provavelmente, na grande maioria, mais urgente que aplicar uma "dose de Evangelho" é conseguir compreender onde está a necessidade real do indivíduo, porque de alguma forma, ajudando-o a compreender a coordenada espiritual face às suas necessidades emocionais, produziremos pessoas aptas para servir entusiasticamente o Mestre.

4 Comments:

Blogger Paula said...

É a primeira vez que visito o blog e gostei. Linkei no meu!

23 de agosto de 2005 às 16:00  
Blogger framentosII said...

Não acabes com o Toresco, volta. Fico com saudades de ler o teu blog, mesmo quando partes o bico do lapis. Este é bom, mas o outro é diferente. Gosto e leio os dois.

22 de setembro de 2005 às 20:42  
Blogger Vítor Mácula said...

Caro Teotónio.

Tomei a liberdade de o linkar.

Um abraço.

3 de outubro de 2005 às 13:03  
Blogger Vítor Mácula said...

Caro Teotónio.

Tomei a liberdade de o linkar.

Um abraço.

3 de outubro de 2005 às 13:07  

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